21 julho, 2007

Cabeza de Vaca-mania, já pensou?

Alfonso Antonio Vicente Eduardo Angel Blas Francisco de Borja Cabeza de Vaca y Leighton Carvajal y Are, o Marquês de Portago à bordo de uma Ferrari No dia 12 de maio fizeram 50 anos desde que Alfonso de Portago disputou sua derradeira corrida, a Mille Miglia de Mantua, na Itália, morto após sofrer um acidente ao volante de uma Ferrari, matando também seu co-piloto Edmund Nelson e 10 espectadores, entre eles 5 crianças.

Um final trágico, mas de certa forma adequado. Alfonso Antonio Vicente Eduardo Angel Blas Francisco de Borja Cabeza de Vaca y Leighton Carvajal y Are, o Marquês de Portago, foi um autêntico playboy que viveu sua vida fazendo o que gosta, e aceitando os riscos de suas escolhas. Nascido em Londres em 1928, filho do décimo sexto Marquês de Portago e de uma aristrocrata irlandesa radicada em Nova Iorque, afilhado do Rei Alfonso XIII da Espanha, Alfonso teve literalmente um berço de ouro.

Criado em meio à decadente aristocracia européia dos anos 30, desenvolveu um estilo de vida extravagante e aventureiro. Apesar de casado cedo com uma milionária americana, teve seus casos com modelos e atrizes de cinema. Mas acima de tudo, Alfonso era fanático por esportes radicais - ou pelo menos, os mais radicais para a época.

Com muito dinheiro para gastar, começou sua carreira de aventuras vencendo uma aposta de 500 dólares ao voar com um pequeno avião sob uma ponte. Depois, amante de cavalos, disputou várias corridas famosas na Europa, além de se dedicar ao polo. Também era um nadador de boa reputação.

Em 1953, induzido pelo mesmo Edmund Nelson, que o acompanhou em sua corrida fatal, Alfonso disputou sua primeira corrida de carros, no México. No ano seguinte, Harry Schell - que mais tarde se aventuraria como construtor de carros de Fórmula 1 - o encorajou a comprar uma Ferrari para dividir com o britânico em provas de turismo. Ele adquiriou o bólido de Luigi Chinetti, um antigo vencedor das 24 Horas de Le Mans, durante uma feira de automóveis em Nova Iorque. Disputando provas com Harry Schell entre 1954 e 55, de Portago revelou-se um piloto "brutal e muito corajoso", como diz Francisco Javier González em um artigo. Isso atraiu a atenção de Enzo Ferrari, que concordou vender ao nobre espanhol um modelo de Fórmula 1. O carro não durou muito, já que Alfonso se arrebentou com ele numa corrida extra-campeonato em Silverstone, fraturando uma perna.

Recuperado do acidente, ele se viu contratado pela Ferrari como um dos pilotos da fábrica.

Alfonso lidera o time espanhol de Bobsleigh nas Olimpíadas de Inverno de 1956Nesse ponto, um parêntese. Em meio ao sucesso nas corridas internacionais, Alfonso de Portago se reuniu com alguns jovens amigos da nobreza espanhola e montou um time de bobsleigh para disputar as Olimpíadas de Inverno de 1956. Sem qualquer experiência nesse tipo de competição, Alfonso e o time espanhol conquistaram um quarto lugar na competição, o primeiro, o melhor, e o único resultado da Espanha nessa modalidade.

De volta às pistas. Já piloto Ferrari, em 1956 o playboy espanhol se metia na maior de suas aventuras: seria um dos cinco pilotos a disputar o Campeonato Mundial de Fórmula 1 pela Ferrari, alinhando ao lado de ninguém menos que Juan Manuel Fangio, Peter Colins, Luiggi Musso, e Eugenio Castellotti. Correndo com os modelos D50 da Lancia - que a Ferrari adquirira ao final do ano anterior - na sua primeira prova, em Reims, vencida por Colins, de Portago abandonou, depois de largar em nono (curiosidade: na quinta posição largou ninguém menos que o legendário Colin Chapman, futuro fundador da Lotus).

Alfonso de Portago alfineta a Ferrari por lhe ter tirado a possibilidade de um bom resultado em SilverstoneEm Silverstone, a glória. Largando em décimo segundo, e disputando a prova pau a pau com Fangio e Moss na terceira posição, a Ferrari o chamou para os boxes. Colins, que naquela altura tinha chances de disputar o título, havia acabado de abandonar com um vazamento de óleo, e, segundo as regras da época, o Comendador ordenou a de Portago que cedesse seu carro ao britânico. Com a quebra de Moss, Colins terminou em segundo, dividindo os pontos meio a meio com o espanhol. Irritado por ter que trocar de lugar, Alfonso, no final da corrida, foi até o carro que Castelloti havia quebrado, empurrou-o até próximo à linha de chegada, sentou-se no cockpit, e acendeu um cigarro. Quando Fangio passou recebendo a bandeirada da vitória, o Marquês só empurrou o carro alguns centímetros para terminar a corrida em décimo.

Dois acidentes impediram que ele completasse as provas em Nürburgring e Monza. Mas paralelamente à Fórmula 1, o Marquês conquistava grandes resultados com a Ferrari em provas de turismo (4 vitórias ainda em 56), em parcerias ilustres, como Phil Hill, Mike Hawthorn, e o seu amigo Edmund Nelson. Isso garantiu seu lugar na equipe para o ano seguinte. E com a saída de Fangio para a Maserati, talvez o Marquês pudesse até aspirar às vitórias!

Mas como no ano anterior, ele não foi escalado para correr a prova de estréia, na Argentina. Mas mesmo assim sua presença foi requisitada. O piloto da casa e um dos favoritos do Comendador, o grande José Froilán González, teve problemas na volta 49 e foi substituído pelo espanhol, que conduziu a Ferrari ao quinto lugar. Os dois novamente dividiram os pontos.

Enquanto isso, os resultados nas corridas de turismo continuavam aparecendo. Cinco dias antes de sua morte na Mille Miglia, ele havia vencido com a Ferrari a Coupe de Vitesse.

Restos do carro de Alfonso de Portago e Ed Nelson na Mille Miglia de 57Como eu disse no começo do texto, o acidente que lhe tirou a vida foi bem ao seu estilo: trágico, dramático, radical. Por causa dele, a Mille Miglia nunca mais foi disputada, e Enzo Ferrari enfrentou um processo criminal que durou 4 anos. Um playboy que aproveitou a vida até a última curva, mas com o mesmo talento e determinação - talvez, com mais excentricidade, e menos seriedade - dos grandes pilotos do seu tempo. "Se morrer amanhã", disse, "terei vivido maravilhosos 28 anos". Mais de 40 anos antes da chegada de Fernando Alonso à Fórmula 1, Alfonso de Portago poderia ter se tornado um dos grandes ídolos do esporte no seu país e no mundo.

Nas palavras do grande Stirling Moss: "Se Portago continuasse a correr, teria chegado a ser muito bom. Acho que Fon era um bom piloto, mas que não levava as coisas muito a sério. As corridas de automóveis não são o mesmo que uma estância de esqui em Cresta. Fon queria se divertir, e era essa uma das razões porque o público o amava. Estava sempre brincando. Se tivesse seguido por mais dois anos..."

Fontes: www.motorsportphotos.de, CarsNTravel.com, Paddock Club (fotos e uma entrevista maravilhosa com o próprio), 8W (foto), Slotcenter.

Um comentário:

senna889091 disse...

gostei da história
ele era mt louco mesmo e bem atlético
vai deixar saudade

este texto é bem completo