Momento Crítico 1 - A Escolha de Warwick
Existem momentos críticos na vida de maneira geral em que pequenos eventos mudam totalmente a direção dos acontecimentos dali por diante. Às vezes um desencontro, uma distração, ou uma decisão vinda de um lugar improvável podem ter enorme repercussão. É sobre a repercussão da decisão de um piloto que eu vou falar, um piloto mediano cuja decisão que mudou para sempre a Fórmula 1.
Derek Warwick havia adquirido respeito como rival de Nelson Piquet na Fórmula 3. Correndo com um orçamento três vezes menor, Warwick passou o ano de 1978 na cola do brasileiro. Sua primeira chance na Fórmula 1 foi com a Toleman, em 81, e lá permaneceu até 83. Nesta última temporada, ganhou enorme reputação ao marcar nove pontos para uma equipe que já vivia o estigma de equipe pequena, e até então havia marcado nenhum. Além disso, Warwick também tinha deixado para trás todos os seus companheiros de equipe (mas cá entre nós, desses só Teo Fabi é digno de comparação). No final de 83, o inglês era um dos pilotos mais badalados do circo. Na ocasião, a Renault perdeu sua dupla de pilotos (Alain Prost foi para a McLaren, e Eddie Cheever, dispensado, foi parar na Alfa Romeo), e o time que disputara até a última prova o campeonato de pilotos de 83 ofereceu um lugar a Derek.
Em 84 a Renault já não era mais a mesma. Embora Warwick tenha até mesmo chegado perto das vitórias (liderou algumas provas, e terminou duas vezes em segundo), havia algo estranho no ar.
Enquanto isso, outro britânico, o residente mais ilustre da Ilha de Man, Nigel Mansell, batalhava com (e contra) sua Lotus. No time desde 80, Mansell viu Colin Chapman abotoar o paletó, deixando a equipe em uma situação delicada. Seu braço direito, Peter Warr, era certamente competente o suficiente para dirigir a empresa, mas não tinha aquele gênio criativo que fez da Lotus uma equipe vencedora nas décadas anteriores. Como resultado, a decadência. Como se isso não bastasse, Mansell, que já não era nenhum garoto, pilotava como um novato, quebrando, batendo, fazendo trapalhadas que lhe custavam resultados importantes, ou simplesmente o faziam parecer ridículo. E para piorar, seu companheiro de equipe era o eficientíssimo Elio de Angelis, e a comparação entre os dois deixava o inglês no embaraço. Ao final de 1984, Mansell já tinha 4 temporadas pela Lotus, e nenhuma vitória, enquanto de Angelis tinha uma vitória, duas pole-positions, e foi terceiro colocado naquele ano.
Em 84 ocorreria um evento dramático que abalaria o status quo da categoria, a afirmação de Ayrton Senna como um fenômeno. Coincidentemente contratado para substituir Derek Warwick na Toleman, Senna fez as conquistas do inglês pela equipe parecerem pífias, e isso imediatamente chamou a atenção de outras equipes. Senna recebeu uma proposta e assinou contrato com a Lotus antes do final da temporada (o que lhe valeu um "castigo" da Toleman, ficando de fora do GP de Monza). Isso significava que um dos seus dois pilotos seria mandado embora, e como de Angelis tinha contrato até o final de 85, o Leão ficaria a pé.
É aí que entra o momento crítico, quando as escolhas de um homem mudam todo o mundo ao seu redor.
A Williams estava insatisfeita com Jacques Laffite, e queria substituí-lo. Frank Williams, depois de fazer Alan Jones e Keke Rosberg campeões mundiais, queria uma estrela britânica, algum compatriota que pudesse brilhar, e que fizesse a equipe brilhar junto. O escolhido? Derek Warwick. Porém, Warwick vinha satisfeito com a Renault, que bem ou mal era uma grande equipe que lutou por títulos nos anos anteriores, onde ele era o primeiro piloto. A temporada de 84 foi razoável, mas sempre havia a possibilidade de uma volta por cima, naquelas condições. A Williams, por outro lado, já tinha seu primeiro piloto definido (Rosberg) e havia embarcado numa incerteza, que era o motor Honda turbo. Warwick não acreditava no projeto da Honda para a Fórmula 1, e, certo de que a Renault lhe daria condições para brigar por vitórias, simplesmente recusou o convite.
E assim, Frank Williams contratou Nigel Mansell.
E para Warwick, o ano de 85 foi um desastre. Antes da temporada começar, já haviam demitido o engenheiro Ross Brawn (ele mesmo!), o projetista Michel Tetu, e o diretor esportivo Gerrard Larrousse. Tudo foi por água abaixo, e com apenas 16 pontos no campeonato, a equipe, superada por suas próprias clientes, faliu, e Warwick ficou a pé. Havia uma possibilidade na Lotus, mas Senna o vetou. Voltou como tapa-buracos na Brabham em 86 após a morte de de Angelis, e passou de 87 a 89 na Arrows. Chegou à Lotus em 90, onde o carro não só era terrivelmente problemático como também perigoso (falhas nos freios causaram um acidente quase fatal com Martin Donelly, e outro fortíssimo com o próprio Warwick na Parabolica de Monza). Só voltaria a pilotar um Fórmula 1 em 93, na Arrows-Footwork.
E Nigel Mansell seria campeão do mundo e 3 vezes vice com a Williams, um dos pilotos mais marcantes e vitoriosos da história recente do esporte.
O que teria sido da Fórmula 1 se Warwick tivesse dito "sim" à Williams? Teria Nigel Mansell tido uma carreira bem mais curta? Teria Derek Warwick se firmado como o grande piloto inglês do final do século? Teria ele, ao contrário, falhado e aberto o caminho para um quarto título mundial de Nelson Piquet, ou talvez uma vaga prematura para Senna na Williams? Nunca saberemos. Mas de tudo isso podemos tirar uma lição, a de que todas as decisões de nossas vidas podem ser as mais importantes, mesmo as que parecem ser as menores. E que tudo que fazemos produz ecos que influenciam todo o universo à nossa volta.
Fontes: The Derek Warwick Homepage, 8W, Formula One Facts (fotos), Brabham BMW (foto)
2 comentários:
Excelente! Excelente mesmo!
Excelente questão!
E esse lance do veto quase que arruina a carreira de Warwick...
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