A Fórmula 1 em Indianápolis 2 - Os pilotos
Depois que eu escrevi sobre a aventura das equipes de Fórmula 1 nas 500 Milhas de Indianápolis em um post recente, especialmente a experiência de sucesso da Lotus nos anos 60, senti que ainda havia mais história para contar. Pois a intromissão do mundo da Fórmula 1 no templo maior do automobilismo norte-americano não se restringiu à aventura de engenheiros obcecados, mas também instilou a ambição de pilotos, alguns deles já consagrados nos circuitos europeus.
Considerando 1950 como ponto de partida com a criação do Campeonato Mundial de Fórmula 1, a primeira grande personalidade da categoria a tentar a sorte na Indy 500 foi o grande Alberto Ascari, indiscutivelmente um dos melhores de todos os tempos. Em 1952, no ano em que se sagraria campeão do mundo, a Ferrari levou sua equipe para Indianápolis (na época, parte do calendário da F1). Porém Ascari decepcionou, e abandonou depois de uma rodada na volta 40. Isso foi o sinal para os competidores europeus de que correr em oval não é tão simples quanto parece.
Em 1961 foi a vez de Jack Brabham. Com uma Cooper-Climax adaptada, ele chegou em nono após as 200 voltas. Nos anos seguintes (64, 69 e 70), Brabham levou carros próprios, mas abandonou em todas as ocasiões com problemas mecânicos. Seu contemporâneo Dan Gurney - um dos raros pilotos americanos que fizeram carreira na Europa antes de tentar as 500 Milhas - teve melhor sorte. Disputou a prova nove vezes, e obteve dois segundos e um terceiro pilotando sua própria criação, o Eagle.
A sensação dos anos 60 era a Lotus, e com ela o piloto favorito da época, Jim Clark. A dupla Clark-Lotus conquistou duas pole-positions, dois segundos lugares e uma vitória, em 1965. Gurney também correu em três edições com Lotus, e cedeu o lugar a Graham Hill, que logo na sua estréia, em 1966, obteve a vitória. Hill ainda largaria em segundo na edição da indy 500 de 1968 correndo com o Lotus "turbina", mas abandonaria a prova depois de uma batida.
Outro campeão mundial, Denny Hulme, obteve dois quartos lugares em 67 e 68 correndo com Eagle, e teve a honra de inaugurar, de forma menos brilhante, a discreta participação da McLaren nas 500 Milhas, em 1971 - que também contou com Peter Revson nos anos seguintes. O futuro tricampeão do mundo Jackie Stewart passou perto da vitória em 66, depois de liderar por 40 voltas (mesmo abandonando a prova a 10 voltas do fim, ainda garantiu um sexto lugar). Jochen Rindt foi outro campeão a marcar presença em Indianápolis, mas sem sucesso.
Nos anos 70, os americanos, principalmente devido à extrema eficiência dos chassis fabricados localmente em ovais, teriam a supremacia da participação na prova. Tanto a evolução dos chassis tipo Indy (acelerada com a criação do campeonato da CART em 1971) como as recentes inovações na aerodinâmica dos carros de Fórmula 1 tornariam as categorias tecnicamente - e financeiramente - incompatíveis. E, ao contrário do que vinha ocorrendo, pilotos de sucesso nos ovais seriam procurados por equipes de Fórmula 1. Mario Andretti foi, daqueles, o piloto mais importante, mas Danny Sullivan, Bobby Rahal e outros tiveram a sua chance. Em 1977, Clay Regazzoni foi convidado pela Theodore Racing a correr em Indy, usando chassis McLaren, sem sucesso (a Theodore, mais tarde, viria a ter uma equipe própria na fórmula 1).
A partir da década de 80, pilotos que se aposentavam na Fórmula 1, ou não obtinham o sucesso esperado na categoria, procuraram Indianápolis. Foi o caso de Hector Rebaque, Roberto Pupo Moreno (que falhou em se classificar com Lotus para o GP da Holanda de 1982 e tentou a Indy em 86), Derek Daly, Raul Boesel, Jacques Villeneuve (o tio homônimo do campeão mundial de Fórmula 1 de 1997 e das 500 Milhas de 1994) e Eliseo Salazar (o chileno que ficou famoso por levar uns sopapos de Nélson Piquet em plena pista, com capacete e tudo).
Porém, a chegada do bicampeão mundial Emerson Fittipaldi à Indy em 1984 renovaria a atmosfera de prestígio que a prova americana vinha perdendo no resto do mundo. Em 1985 já largava em quinto e liderou 11 voltas antes de abandonar com problemas mecânicos. Em 1989, numa manobra ousada sobre o favorito Al Unser Jr., Emerson obteve a primeira vitória de um brasileiro nas 500 Milhas, e quebrou o protocolo ao beber suco de laranja ao invés do tradicional leite na entrega do troféu - uma bela jogada de marketing, já que Fittipaldi é um grande produtor de cítricos no Brasil e nos EUA. Ele ainda fez a pole em 1990 e venceu outra vez em 1993. Em 95 passou pelo embaraço de não conseguir a classificação, por causa de problemas sérios no chassis Penske.
O sucesso de Emerson atraiu outro ex-campeão do mundo, Nelson Piquet. Depois de voar em todos os treinos e se candidatar à pole-position, Piquet sofreu um violento acidente, batendo de frente depois de um giro de 360º na curva 4, esmigalhando os dois pés. Ele ainda conseguiu voltar em 93. Se classificou no pelotão intermediário, mas com um equipamento apenas mediano, pouco pôde fazer. Naquele ano estreava o seu arqui-rival, Nigel Mansell. O Leão terminou em terceiro na sua prova de estréia, mas fez uma corrida ruim no ano seguinte.
Infelizmente a carreira de ambos nos EUA foi curta. Mas na mesma época, outros pilotos recém saídos da Fórmula 1, como Maurício Gugelmin, Stefan Johansson, Christian Fittipaldi (segundo lugar na sua prova de estréia), e Mark Blundell continuaram pipocando no oval de Indiana. Michele Alboreto, vice-campeão mundial em 1985 pela Ferrari, fez sua única participação nas 500 Milhas em 96. Nos últimos anos, pilotos com participações medíocres na Fórmula 1 também obtiveram resultados medíocres na Indy 500. Foi o caso de Max Papis (ex-Arrows), Shinji Nakano (ex-Prost) e Thomas Enge (também ex-Prost).
Certamente, dos pilotos americanos que fizeram o caminho inverso - constituir carreira na Europa, para depois correr em casa - Eddie Cheever tenha sido o mais bem sucedido. Depois de uma carreira bastante razoável na Fórmula 1 (mesmo passando apenas por equipes e médias), Cheever se aposentou em 1988 e fez sua estréia na Indy 500 em 90, com um sexto lugar. O ápice veio em 98, quando o piloto norte-americano venceu a prova. Cheever atualmente comanda uma equipe de relativo sucesso na IRL, com participação em Indianápolis.
Como pudemos ver, a "superioridade" dos pilotos de Fórmula 1 sobre os pilotos criados em ovais é ilusória. Na maior parte das vezes em que saíram do seu meio para buscar a glória nos EUA, eles se meteram em fria. Somente em casos extraordinários os pilotos do lado de lá do Oceano impuseram superioridade aos do lado de cá. Os pilotos norte-americanos, cuja escola se baseia nos circuitos ovais, sempre foram os homens (e atualmente, as mulheres também) a serem batidos. Comparar a qualidade de um Ricky Mears (5 vezes pole-position e 4 vezes vencedor em Indianápolis) com um Fangio, ou mesmo com um Emerson Fittipaldi - com quem correu junto na equipe Penske no final da carreira - é descabida, pois assim como Emerson foi um piloto excepcional em circuitos mistos, Mears foi um monstro nos ovais, e cada um dominou o seu próprio meio no seu próprio tempo. Deixemos que cada rei exerça seu reinado em seu próprio reino.
Fontes: Indy 500 (incluindo fotos), Formula One Facts.
4 comentários:
Parabéns pelo blog !!! Ah esse Enge é um vacilão perdeu o título da F3000 por causa de um baseado e levou um gancho de um ano . Sugestão :vacilos tipo esse e do Bertrand Gachot.
Fantástico blog. Uma mina para quem curte a história do automobilismo. Sugestão sobre o tema Fórmula 1 em Indianapolis: um post a respeito da Corrida dos Dois Mundos (ou algo assim) realizada em Monza, utilizando as curvas inclinadas com carros de Fórmula 1 e Indy.
Monocromático, Eddie Cheever não se aposentou em 1988, e sim em 1989. Só um depois se mudou para a Indy.
esqueci de colocar "ano" antes de "depois"
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